quinta-feira, janeiro 30, 2003
Karma. Estigma. Anátema.
Só peço que sejas isso.
Nada mais te solicito.
E se fores tu sempre meu mal
que Paz, que ternura me inspira
o fio da tua voz
Que sigo, que ordena, que quero...
Tão irada como mel,
Tão revelação como antiga,
Tão mistério como minha...
Quem és, de onde vens, para onde me levas?...
enviado por Anónimo |
7:42 da tarde
quarta-feira, janeiro 29, 2003
De veias latejantes
Se faz uma vida.
Da água que corre em clepsidra, lenta
Se bebe em golos sorvidos a medo.
De mim a areia em que lento te deitas
Desmoronando-se em morno abandono.
Da tua forma adaptada ao novo
Se fez a minha já toda coragem.
De mim a ti o espaço que encolhe,
Porque já nada, nem vivo nem morto,
Poderá nunca ocupar o leito,
o espaço e o tempo que são só nossos.
VP
enviado por Anónimo |
8:14 da tarde
"Vergonha de comer uma maçã..." - disse.
Vergonha? Vergonha de quê?... De comer? E... uma maçã? Porquê???
"Um adolescente tem o seu código de conduta... Comer uma maçã é, no mínimo, pimba... Ninguém o faz entre nós... Entende?... É o grupo... Pessoalmente, também não gosto, acho ridículo, mas... é a moda... Que posso eu fazer? É como dizer que ontem se comeu peixe cozido: morte certa... e súbita! Deixamos de existir, perde-se o lugar... Depois, serão sempre os risos deles a acumular-se-nos nas costas, quando passamos: olha o politicamente correcto!... Se me excluirem, que seja por algo mais válido, entende?..."
Viro costas, um esgar de incredulidade, sensação de náusea. ESTES, governarão o meu país quando eu for velho ...- pensei, enchendo os pulmões de ar até me doerem. Ainda sou útil, produzo, movo-me, vivo, consumo, desconto... Na idade de ouro, das aquisições adquiridas, da plenitude pacífica serei para ELES a maçã podre, o fruto enrugado, o descartável, o fóssil... Terei caído da árvore genea(i)lógica do mais forte... Dar-me-ão um pontapé como a uma maçã excedentária...
enviado por Anónimo |
7:09 da tarde
Lugar comum
Depois de tudo o que dissemos
Agora que o tempo vai correndo
Depois da tua vida suspensa em mim
Agora das minhas mãos despedida
Depois da vida que vivemos os dois
Agora mais curta do que o tempo
Depois de juras e palavras sem fim
Agora és pó e memória indefinida
Depois de tudo o que fizemos
Agora sou o teu nada antes nem depois
enviado por C |
2:03 da manhã
terça-feira, janeiro 28, 2003
Que sim. Que valera a pena. Valera a pena esperar tanto... Hesitava, o dedo percorrendo o tampo já muito polido da mesa, em carreiro de formigas. Vestiu o casaco, cabelos que eram uma fuga, apressou-se a sair. Encostou a porta ao de leve, num assomo de serenidade inusitada. Na rua, nada mudara: o sol era igual, o céu, o mesmo da véspera, tudo igual. O que mudara fora o olhar, de dentro para fora. Agora era preciso passar palavra, mostrar a outros com olhar igual que valia a pena ter estado do outro lado, ter falado com os de lá, em pensamento. Nitidez lúcida, percepção aguçada, olhar acutilante, fora isso só que mudara. Mas fazia toda a diferença! Ah, fazia!... Agora, era mostrar-lhes que valera a pena esse reconhecimento dessa força, desse lugar. Falar por pensamentos, tocar ao de leve, saborear, afinal essa energia intrínseca a que tão simplesmente os outros chamavam vida...
VP
enviado por Anónimo |
7:51 da tarde
Mesmo assim, mesmo com a brisa, mesmo com os pássaros, os espelhos... tenho saudades do teu olhar, da tua intenção, do teu pensamento; de, para além das coisas, o significado que têm para ti e o significado que ganham contigo... contigo a gostar delas.
As árvores caprichosas...
O vento descontrolou-se! Agarrou as árvores à força e beijou-as! Beijou-as à força - eu vi! Agarrou-as pela cintura, elas esbracejaram, deixaram cair a cabeça, os cabelos, os ombros, o tronco para trás e ele beijou-as... e elas sossegaram.
Os dois podíamos brincar, correr por aí fora! Tomar esses caminhos, terra que nunca mais acaba! Sol, sossego à espera de ser agarrado. Tempo, espaço, à espera de que brinquemos com ele. Tudo aqui nos chama para brincar! Chama o nosso corpo, o nosso gesto mais largo e solto e cheio de vida. Aqui a Natureza toca os tambores, ao compasso deles o meu coração bate. O vento faz a corrente da minha seiva. A minha vida corre ao lado do vento e por dentro das árvores. Mãe Natureza? Irmã Natureza! Algumas, entre a multidão das árvores, algumas até sentem paixão por mim... e o chão também - deito-me nele. Pertencemos juntos. Acho que temos bocados de coração em comum... bocados de sentimento. Há qualquer coisa de terra em mim. O seu amor é o meu.
Correr Correr Correr Correr
Patrícia
enviado por C |
6:29 da tarde
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